quarta-feira, outubro 19, 2011 | | By: Luis Ventura

Narrador esportivo ou narrador futebolístico

Olá pessoal! Nesse fim de semana começou os Jogos Panamericanos Guadalajara 2011, um evento muito esperado por todos os amantes do esporte. No meu caso além de ver um show de esportes, eu observo outra coisa bem especial: os narradores.

Eu estudei e estudo muito essa área, então tenho um pouco de crédito para falar sobre eles. Sabe que é em um evento como os Jogos Panamericanos e Olimpíadas que vemos quem realmente é locutor esportivo e quem é locutor de futebol. Mas claramente, conhecemos quem entende de todos os esportes e quem faz de conta que entende. E estou me surpreendendo, negativamente.

As transmissões estão acontecendo no portal Terra e na Record. O time da Record eu conheço de cor: Mauricio Torres, Eder Luiz, Álvaro José, Marco Túlio Reis e Reinaldo Gottino. Da turma do Terra, conheço só uma parte. Tem o Mauricio Bonatto e o Rodrigo Cascini que já vi no Bandsports e o Jorge Vinícius que ouvi umas vezes na Record e no Sportv.

Independente de serem conhecidos ou não, já é possível perceber uma coisa na maioria deles: Quando o evento aperta e chega um momento que você não sabe o que falar, muitas vezes por falta de intimidade com o esporte, eles recorrem aos anúncios da programação. Dos esportes que tivemos até agora, Vôlei e Natação, por serem os mais comuns aos brasileiros, são fáceis de serem narrados. Porém, nos outros esportes, os locutores tem empregado uma técnica, que eu não considero a mais adequada.

O que tem acontecido é que, praticamente, quem narra o evento é o comentarista e não o locutor. No Taekwondo e na Ginástica Rítmica, por exemplo, é o que tem ocorrido. Nos dois casos, os comentaristas ao invés de darem sua opinião ou fazerem comentários técnicos sobre a luta ou a apresentação, eles vão indicando o que acontece, tipo “a atleta vai receber punição”, “teve mais uma falta” etc. Para mim, isso mostra a falta de conhecimento dos narradores sobre os esportes.

Quando você se propõe a narrar um evento multi esportivo, o mínimo que se espera é que você conheça o básico do esporte, como a forma de disputa, os tipos de pontuação e de faltas. Nesse quesito, a Record, por já estar com uma equipe junta e se preparando há tempos tem ido bem. No caso deles, a única coisa que tenho observado, é muitas vezes a repetição excessiva de termos da modalidade (em muitos casos, sem necessidade). No Terra, os locutores parecem que ficaram sabendo da escala meio que em cima da hora, sem ter tempo para se prepararem. E sem tempo para se preparam acontece isso, o narrador leve até onde dá e na hora do aperto, recorre ao merchandising e ao comentarista na hora e de forma errada.

Para esses tipos de evento, em especial, o segredo é a preparação. Por isso que eu digo que nessa hora conhecemos que é narrador de todos os esportes e quem é só de futebol. Como descobrimos isso? Simples, pois quem sabe e conhece várias modalidades, consegue encarar uma parada desses mesmo tendo pouco tempo de preparação. Pois nesse tempo curto, ao invés de aprender sobre o esporte, as regras, a história e todas essas partes, para depois ficar por dentro de quem é o cara do momento, os favoritos e etc., vai direto para os favoritos. E o narrador que consegue ter posse de todas essas informações, consegue conduzir a transmissão muito bem e recorre ao comentarista e ao merchandising na hora certa.

Voltando ao ponto em que disse que “os locutores tem empregado uma técnica, que eu não considero a mais adequada”, explico que não é a mais adequada pois, muitas modalidades são novidades para os espectadores. Então a locução e os comentários precisam ser mais didáticos, principalmente nas fases preliminares. E como vemos, os narradores, por conhecerem pouco ou, ás vezes, nada do esporte, eles não conseguem extrair o lado didático e técnico dos comentários quando necessário.

Com tudo isso, vemos uma grande mescla de estilos de transmissões:

1- A ideal, em que o narrador conhece e, ainda por cima, conta com um comentarista que já tem experiência na função e ambos sabem quando e como devem fazer suas funções.

2- O narrador conhece, mas ele tem ao lado um comentarista estreante na função. Nesse caso o narrador precisa estar chamando o comentarista para participar e fazer seus comentários.

3- Narrador que conhece pouco e comentarista experiente. No caso o comentarista experiente percebe a dificuldade do narrador , respeita isso e tenta ajudar, pois sabe qual é a sua função na transmissão.

4- Narrador que conhece pouco e comentarista iniciante. O narrador tenta procurar se apoiar no comentarista e aí pode acontecer duas coisas: o comentarista ser um cara extrovertido, e aos pouco se sentir a vontade e começar a narrar, conforme citei acima, o evento. Ou o comentarista ser tímido e não ficar a vontade. Aí o narrador tenta se apoiar nele e acaba vindo sempre frases curtas ou comentários básicos.

5- Por fim, narrador que não conhece nada e que, por circunstâncias, ao tem comentarista, e nesse caso ele fica perdido e chega a ter momentos em que não sabe o que falar.

Vocês viram que eu fui ético e não cheguei a citar nomes, nem de quem considero que está fazendo certo, nem de quem ta fazendo errado. Para exemplificar tudo, eu considero o meu exemplo, em que estou gravando as transmissões do Pan e narrando para aprimoramento e treinamento pessoal.
Por trabalhar diariamente em horário comercial e fazer as narrações nas poucas horas de lazer. Eu me encaixo nos seguintes requisitos: Conheço regras e histórico de, pelo menos, 20 modalidades. Me escalei para narrar o Pan há mais de um ano, porém ao tenho tempo para me preparar sobre as atualidades de forma ideal. Como estou sozinho, eu mesmo faço o papel de comentarista, então consigo desempenhar alguns dos perfis que retratei.

Vamos a um exemplo bom e outro ruim meu. Sábado fiz o primeiro dia de natação. Este é um esporte que acompanho desde 2001 e entendo as regras, sei da história e da atualidade. Então fui muito bem., gostei da forma que conduzi a transmissão e até do meu desempenho como comentarista (em que interpretei Mariana Brochado). Domingo foi a vez do ciclismo. Conheço as regras, sei um pouco da história, mas não estava por dentro da atualidade. Desta forma, considerei meu desempenho na transmissão do feminino como ruim, inclusive como comentarista (interpretando Hernandes Quadri Jr., medalhista nos Jogos Panamericanos em 1995). Não conhecia como era a dinâmica de transmissão da prova e conhecia pouco os recurso técnicos. Poucas horas depois, no masculino, fui um pouco melhor, pelo fato do anterior, mas pela falta de preparação acabei decepcionando. E assim vou indo: vou bem nos que tenho pratica (vôlei e natação) e mau nos sem pratica (ciclismo, vôlei de praia e taekwondo).

Encerrando, eu sei que quem não me conhece vai perguntar “Quem é esse cara e que moral ele tem para comentar sobre isso?”. Quem me conhece vai entender e me parabenizar pelo artigo. E concluo, por experiência, que no locução esportiva, o segredo e preparação e pratica. Quanto mais informações você tiver em mãos e maior for o seu conhecimento da dinâmica da transmissão, melhor será o seu desempenho.

E por esse ponto, vejo que é importante você ser especialista em um determinado esporte, seja ele futebol, vôlei, basquete, tênis, judô etc. O grande problema é quando, para esse eventos grandes, as emissoras, seja por falta de opções ou por questões publicitárias e de audiência, recorrem aos narradores de futebol, sem dar a eles o tempo necessário para se preparar. É como jogar na altitude. O problema não é jogar lá e sim não ter o tempo necessário para aclimatação. E como a seleção brasileira já mostrou algumas vezes, o resultado disso pode não ser bom.

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