segunda-feira, fevereiro 21, 2011 | | By: Luis Ventura

Quem manda no esporte?

Nos últimos dias, devido aos protestos da população do Bahrein, tem se cogitado a não realização da primeira etapa do mundial de Fórmula 1 naquele país, marcado para 13 de Março. O principal argumento é que o estado barenita não teria condições de garantir a segurança dos profissionais das equipes, dos jornalistas e dos espectadores. Porém, quem pode decidir essa questão resolveu passar a batata-quente para outro, já que o dono da F1, Bernie Ecclestone, deixou essa decisão para nada mais nada menos que o Princípe do Bahrein. É claro que o princípe vai confirmar a realização, até porque a Fórmula 1 seria uma forma de mostrar ao mundo que apesar dos prostestos, o país garante a segurança de qualquer um. E Bernie, claro, sabendo disso, evita cancelar um GP e ter alguns milhões de prejuízo.

A partir desse fato, é que levanto a questão: Quem realmente manda no esporte? Sabemos que as coisas mudaram e hoje ninguém mais usa aquele lema de "o importante é competir". O lema atual é "o importante é ser o melhor, o maior, o mais poderoso" e coisas do tipo. Há muito tempo, por exemplo, a Fórmula 1 deixou de ser aquela categoria que contagiava a todos pela competitividade de seus carros e pilotos, além de possuir circuitos em que cada curva era um desafio para os pilotos. Hoje, quem tem dinheiro leva a melhor. São poucos os pilotos que estão lá por méritos. A maioria tem um patrocínio que comprou para ele uma vaga. Os circuitos cada vez mais estão em lugares mais distantes e sem tradição no automobilismo. As pistas cada vez mais apresentam menos dificuldades para carros e pilotos. Shakhir, Shanghai, Sepang, Cingapura, Abu Dhabi, Coréia do Sul e outros, por mais modernos que sejam, proporcionam corridas chatas e tiraram da categoria autódromos e países tradicionais como Jerez, Estoril, França, Ímola, México e os maravilhosos circuitos de rua dos EUA ( Detroit, Phoenix e Long Beach). E não para por aí não, novos oásis estão por vir (Rússia, Índia e o circuito de Austin (EUA)) e tradicionais circuitos por sair (Austrália, Suzuka e se bobear Interlagos).

No futebol esse fato também é notavel, principalmente quando se fala de jogadores. Antes na seleção, quando tinhamos jogadores que atuavam fora do país, eles eram de clubes da Itália, da Espanha, da Inglaterra e na pior das hipóteses, da Holanda (PSV). Hoje você jogadores que jogam na Rússia, na Ucrânia e por aí vai. E quando o jogador saía dos times brasileiros. Se fosse da Seleção era para um Barcelona, Real Madrid, Milan, Bayern e etc. E se fosse mais ou menos era para times médios da Itália, Espanha, Alemanha, Portugal ou França. Hoje eles saem e vão jogar na China, na Arábia, na Chechênia e nos fim do mundo da vida. Ou seja, vão para aqueles que oferecem muita grana e na maioria das vezes, ainda voltam antes porque não se adaptaram ou estão esquecidos.

Citei só esses dois exemplos, mas se vc ver, todos os esportes agora vão pelo dinheiro. Até a NBA, que quando tinha estrangeiros, era porque eles eram muito, mas muito bons mesmo. Hoje é o seguinte: se eles querem divulgar a marca deles em Tonga (por exemplo), eles contratam um jogador de Tonga, nem que seja para ser o último reserva do pior time da liga e fazem o nome dele por lá como um dos melhores jogadores do mundo, pois está na NBA.

Eu acho que o único ramo do esporte que ainda não foi dominado completamente por esse mal são os Jogos Olímpicos. Podemos até argumentar que em 1996 com Atlanta e em 2002 com Salt Lake City a escolha foi por $$$. Mas são casos isolados. Veja agora para 2016. Madrid era superfavorita, colocou muita grana na campanha e no fim deu Rio de Janeiro. É claro que o financeiro pesa um pouco, mas os comissários do COI ainda levam em conta questões técnicas e esportivas, diferente da FIFA, que por exemplo escolhe um dos países mais frios do mundo para receber uma copa e na seqüencia um dos mais quentes e que vão gastar uma grana para construir estádios ao invés de países que ja tem a estrutura toda pronta e que poderiam sediar a copa amanhã, como a Inglaterra, os EUA e a Espanha.

E o mesmo eu digo para o Brasil. Claro que eu quero ver meu país sediar uma Copa, desde que em locais que tenham condição para isso. Não concordo em construir estádio de 70.000 em uma cidade que recebe por ano um público total nos jogos de 30.000 e ver outras cidades com Goiânia e Florianópolis, onde há dois ou três times de massa que não vão receber investimentos.

Infelizmente é assim, hoje quem manda no esporte é quem tem dinheiro (e muito dinheiro). E é por isso que cada vez mais sinto saudade dos tempos de Ayrton Senna, da Copa de 1982, das Olímpiadas de Seul e Barcelona e da NBA de Michael Jordan, Magic Johnson e Charles Barkley, além claro de ver na seleção Evair, Müller e Viola ao invés de Hulk, Jádson, Afonso Alves e outros.

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