quarta-feira, dezembro 22, 2010 | | By: Luis Ventura

A grande questão: A Unificação dos títulos brasileiros

Fazia tempo que não escrevia por aqui. Não escrevia porque não tinha ssunto bom para falar. O esporte andava chato até então. Mas eis que surgiu neste mês uma questão que me agrada discutir e que fala da história do futebol Brasileiro: A unificação dos títulos nacionais.

Começaremos então apresentando a história desses torneios cronolócicamente.

A História

Desde a décade de 20, quando começou a se proliferar os clubes de futebol no país até 1958, os clubes disputavam apenas as competições estaduais por duas questões: Financeira e Logistica, pois o futebol ainda não movimentava milhões e os deslocamentos entre as cidades só poderia ser feito de carro ou ônibus, já que ainda era precária a estrutura aeroviária do país. Os únicos campeonatos interestaduais que existiam era o Torneio Rio-São Paulo e o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais.
Porém no fim dá década de 1950, a Confederação Sulamericana decidiu criar uma competição continental entre clubes, seguindo os moldes da então Copa dos Clubes Campeões da Europa, que havia sido recém criada no velho continente. De quebra o vencedor desse novo torneio iria disputar com o vencedor da competição européia o título de "melhor time do mundo". E ficou decidido que em 1960 seria disputado a primeira edição e contaria com os campeões de cada país filiado a CONMEBOL.
Porém, no Brasil não havia uma competição nacional de clubes que decidia o "melhor do país". Então a CBD (Confederação Bras. de Desportos e que na época representava o futebol do país internacionalmente) criou um torneio para decidir quem seria esse clube e que posteriormente representaria o país na Libertadores. O Torneio foi chamado de Taça Brasil e contava apenas com a participação dos campeões estaduais (e futuramente com o campeão da edição anterior). Devido a questão logística, o torneio era disputado em jogos eliminatórios. As primeiras fase eram regionalizadas e os melhores times de cada região (Norte/Nordeste e Sul) enfrentavam nas semifinais o campeão Paulista e o Campeão Carioca (que tinham essa vantagem porque eram os principais estados futebolísticos na época). A priemira edição foi em 1959 (para indicar o time que jogaria a Libertadores de 1960) e EC Bahia foi o campeão.
Já em 1967, foi organizado a primeira edição do torneio chamado Roberto Gomes Pedrosa. Esse torneio foi uma ampliação do torneio Rio-São Paulo, já que os times de Minas Gerais e Rio Grande do Sul começavam a se destacar em âmbito nacional (e a logística do país também melhorava). Participaram da primeira edição 15 clubes (5 paulistas, 5 cariocas, 2 gaúchos, dois mineiros e um paranaense). Em seu ínicio, torneio tinha o mesmo status que tinha o torneio Rio-São Paulo. Era um torneio importante, mas o campeão não era considerado campeão brasileiro. Esse status ainda cabia a Taça Brasil, que classificava para a Libertadores e tinha uma gama maior de estados representados.
Porém um fato ocorrido na edição da Taça Brasil de 1968, mudou a história dos torneios.
Em 1968, Botafogo RJ e Metropol de SC fizeram uma das quartas de final da Taça Brasil. O primeiro jogo no Rio, foi vencido pelo Botafogo por 6 a 1. A partida de volta foi vencida pelo Metropol por 1 a 0. Como na época não havia critérios de desempate, nesse caso de cada time ter vencido um jogo, independente da vantagem de gols, seria disputada uma terceira partida, a ser realizada na mesma cidade do segundo jogo. Porém, o estádio do Metropol não oferecia condições de iluminação adequadas para o terceiro jogo, que seria numa quarta a noite e a CBD transferiu a partida para Florianópolis. Com a recusa do Metropol em jogar em outra cidade, aliada à falta de datas no calendário dos clubes para um jogo diurno em Criciúma (o clube era de lá), criou-se um impasse que atrasou em 4 meses a continuidade daquela Taça Brasil, até
a aceitação do Metropol em disputar o jogo no Rio de Janeiro. (Terceiro jogo foi interrompido por causa da chuva, foi remarcado para o dia seguinte e o Metropol não compareceu e foi considerado perdedor do confronto)
Porém esse atraso faria com que a taça não terminasse antes de iniciar a Libertadores de 1969 (que era a competição para qual o torneio classificava). Então a CBD, como alternativa em caráter especial, somente naquele ano, indicaria o vencedor do Torneio Roberto Gomes Pedrosa para a disputa da Libertadores 1969. Sabendo disso, Santos e Palmeiras, que entraariam direto na semifinal, resolveram abandonar a Taça Brasil e se dedicar ao Robertão, para conseguir a vaga na Libertadores.
Só que como já havia ocorrido em 1966, a CBD entrou em desacordo com a CONMEBOL em relação ao regulamento da Libertadores e resolveu não mandar participantes. (EM 1966 foi por causa da inclusão dos vice campeões nacionais, o que a CBD discordava e em 1969 e 1970 foi por causa das datas que atrapalhariam a preparação da seleção para as Eliminatórias e a Copa de 1970).
A Taça Brasil de 1968 seria a última edição e porque? Porque como a CBD não iria mandar representantes para a Libertadores de 1970, resolveu não organizar a Taça Brasil de 1969 que indicaria esses representantes. Então o Robertão passou a ser a única competição Nacional e o seu campeão portanto seria o melhor do país.
Em 1970, a CBD resolveu mandar novamente representantes para a Libertadores, e como não haveria um tempo hábil para organizar uma nova Taça Brasil para definir os representantes, a CBD resolveu tomar para ela a Organização do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, tornando assim o torneio oficialmente um campeonato nacional e dando ao seu campeão o Status de Campeão Brasileiro.
Mas os clubes que disputavam a Taça Brasil ficaram descontes e em 1971, a CBD resolveu criar um campeonato nos moldes que existiam em outros países. Esse molde consistia em dividir os clubes por divisões de acordo com a sua popularidade. Assim nasceu o Campeonato Brasileiro de Clubes, substituindo o Robertão. Mas o apelido permaneceu: Taça de Prata.
Só que os clubes da 2ª divisão não curtiram muito a idéia de não jogar contra os principais times do país, (Principalmente os times para qual torciam líderes da Ditadura Militar) e em 1974, a CBD unificou as divisões e o campeonato foi ampliado para 40 times.
E a partir dessa reinvidicação, cada ano o número de clubes foi aumentando. De 40 em 1974 passou para 42 em 75, 54 em 76, 62 em 77, 74 em 78 e 94 em 79.
Em 1980, a CBD virou CBF e a CBF reorganizou a bagunça que tinha virado o Campeonato Brasileiro. Pressionado pelos grandes clubes, a CBF dividiu os clubes em 3 divisões (Taça de Ouro, Taça de Prata e Taça de Bronze) e atendendo uma recomendação da FIFA, estabeleceu o acesso e descenço entre as divisões ( oque não ocorreu entre 1971 e 1973).
Porém havia uma regra que foi criada para atender aos times pequenos e no fim prejudicou os grandes, tendo que haver uma nova regra maluca para salvá-los. A regra era: a classificação dos campeonatos estaduais decidiriam quais times iriam para a Taça de Ouro, de Prata ou de Bronze. Mas alguns times grandes que iam mau no estadual, teoricamente iriam para a Segunda divisão ou a terceira. Então a CBF estipulou que ainda no mesmo ano, 4 times da Taça de prata seriam promovidos para a Taça de Ouro. Assim, um time poderia jogar a segunda e a primeira divisão no mesmo ano e ser campeão das duas.
Em 1981, os primeiros times grandes salvos por esse regulamento foram o Palmeiras e o Bahia. Essa forma de disputa seguiu até 1985.
Em 1986, o torneio mudou de nome e de troféu. Passou a se chamar Copa Brasil, acabando novamente com as divisões e a taça a ser disputada passou a ser a famosa taça das bolinhas, oferecida pela Caixa Economica Federal. O campeonato inchou de novo e chegou a 80 clubes e um regulamento confuso.
Contrariados com isso, os grandes clubes resolveram se unir e fundar uma organização, chamada Clube dos 13 (que contava com Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo, Palmeiras, Corinthians, São Paulo, Santos, Cruzeiro, Atlético Mineiro, Grêmio, Inter e Bahia), com a intenção de organizar um campeonato próprio. A versão oficial diz que a confusão começou em 1986 naquele campeonato mau organizado e com várias disputas juridicas entre os clubes. Como não houve segunda divisão, a CND (Conselho Nacional de Desportos) determinou que para 1987, os 24 melhores clubes de 1986 jogariam a primeira divisão de 1987 e ainda tomou decições juridicas que contrariavam a CBF, como dar um ganho de causa a um pedido do Joinville. Por causa disso a CBF resolveu não organizar o campeonato alegando problemas financeiros e decidiu apoiar o campeonato do Clube dos 13, desde que convidasse alguns clubes para seu campeonato. Foram convidados Coritiba, Goiás e Santa Cruz.
A Copa União teve inicio e o sucesso financeiro foi grande e a CBF, de olho nisso e usando seu poder de representante máximo do futebol brasileiro, resolveu propor uma mudança no regulamento com a competição já em curso. Eles propuseram a criação de um novo grupo, com os times que não estavam participando do novo campeonato e que no final, os dois finalistas de cada grupo se enfrentassem em um quadrangular para decidir o campeão. Seriam os Módulo Verde (com os times que já disputavam o torneio) e Amarelo (com os que entrariam agora). Aí, o Sr. Eurico Miranda, em nome do Clube dos 13, teria assinado um documento oficializando isso. E o campeonato seguiu. A CBF gostou tanto que criou o módulo Azul e Branco que seriam a segunda divisão daquele ano.
Porém na hora dos campeões se enfrentarem, o Clube dos 13 deu para trás e não disputou o quadrangular. Assim, os campeões do Módulo Amarelo decidiram o título e foram classificados para a Libertadores.
Em 1988, a Copa União permaneceu, mas agora sob total controle e responsabilidade da CBF, com os clubes dividos em divisões com acesso e descenço entre elas (classificatória para o ano seguinte) e sem que as mesmas tivessem que se enfrentar, como havia sido proposto em 1987. Esse modelo seguiu até 1992. (A Partir de 1989, o nome copa união sumiu e voltou a ser Copa Brasil, com a taça das Bolinhas).
Em 1993, uma virada de mesa mudou o campeonato. Em 1991, o Grêmio foi rebaixado. E não conseguiu voltar no campo em 1992. A CBF resolveu então promover, ao invés de 2, 12 clubes para salvar o Grêmio. O campeonato mudou de apelido e de taça. Passou a ser chamado apenas de Campeonato Brasileiro, sem quaisquer subnomes como Taça de Ouro, Copa União ou Copa Brasil. A taça das bolinhas saiu de disputa, pois aquela era a taça entregue no torneio apelidado de Copa Brasil e entrou em disputa a Taça entregue até hoje ( O regulamento original previa que o primeiro time que ganhasse a nova taça por 3 vezes, seguidas ou alternadas, ficaria com ela em definitivo).
O Campeonato teve 32 times na primeira divisão, então denominada Série A. As demais divisões ficaram como Série B e Série C, promovendo 2 times e rebaixando dois (apenas a Série C não rebaixava, já que a classificação era definida nos campeonatos estaduais).
E apesar de algumas viradas de mesa esse regulamento ficou até 1999. Tendo como base 24 clubes na Série A, 24 na Série B e números váriados na Série C (32, 42 ou 64).
Aí em 2000 houve aquela confusão com o Gama, que impediu que a CBF organizasse o Campeonato Brasileiro e permitindo que o Clube dos 13 organizasse a Copa João Havelange em substituição, cujo o campeão (Vasco) foi reconhecido pela CBF como campeão Brasileiro.
Em 2001, com o impasse do Gama desfeito o campeonato voltou ao comando da CBF e apartir de 2003 passou a ter o formato atual: Pontos Corridos na série A e B, Série C regionalizada e a criação da Série D (a partir de 2009).

Perguntas recorrentes

Muitas perguntas são feitas sobre essa questão, e as principais são de que a Taça Brasil deveria ser comparada a Copa do Brasil e o Robertão ao Brasileiro por causa do formato, o fato de haver dois campeões no mesmo ano e de alguns campeões terem feito 4 jogos enquanto hoje se faz 38 para ser campeão.
Vamos as respostas.
Realmente, em termos de formato de competição, a Comparação que citei no paragráfo acima é válida. Porém, como disse na retrospectiva, o fato da logistica brasileira não ser desenvolvida na época, o máximo que se podia fazer era isso. Tinha que haver disputas regionais para que na fase final houvesse os confrantos entre os times do eixo Norte Sul. O Mesmo se aplica ao Robertão, pois o Bahia era um dos principais times da época e por sua colocação geográfica ficou de fora nos primeiros anos. Esse argumento também responde a questão do número de jogos. Era o que podia ser feito na época. Tanto que até hoje esse critério logistico e financeiro prevalece, principalmente na Série C, que deveria ser disputada por pontos corridos mais não é.
O fato de haver dos campeões no mesmo ano por um lado existe e por outro não existe. Não existe porque o campeão brasileiro sempre foi considerado o campeão da Taça Brasil e só passou a ser o Robertão a partir do momento que a Taça Brasil se extinguiu. Porém existe pois se o Robertão virou um campeonato Brasileiro, pode então considerar o campeão de suas edições anteriores também Campeão Brasileiro. E sabemos que não há nada de errado ter dois campeões no mesmo ano de campeonato diferentes. A Argentina tem isso até hoje, o Paulistão e o Caroica já tiveram e o futebol americano já teve e assim por diante.

Conclusão

A minha conclusão é: não vejo nada demais em considerar "oficialmente" os times que venceram a Taça Brasil e o Robertão como campeões Brasileiros, até porque não é nada que está se dando já que foram campeões e o torneio era Oficial. O que pode ser questionado são os anos que tiveram as duas competições disputadas (1967 e 1968). Se for para considerar uma só, deve ser considerada a Taça Brasil, pois era o torneio que a CBD na época considerava como o campeonato Brasileiro. O que posso interpretar agora é que a CBF também reconhece os robertões de 1967 e 1968 (o que não aconteceu na época para essas ediçoes e sim apenas as de 1969 e 1970) como campeonatos brasileiros também naqueles anos, o que indica a realização de 2 campeonatos nacionais e portanto dois campeões nesses anos.
O que me incomoda é o pessoal da imprensa falar "Agora teremos que rever todas as estatísticas". Eu acho balela. A Taça Brasil foi a Taça Brasil. O Robertão foi o Robertão e o Campeonato Brasileiro (apesar de seus apelidos) é o Campeonato Brasileiro. Cada um com suas estatísticas e seus recordes. Para comprovar esse argumento cito o exemplo do Mundial de Clubes. Entre 1960 e 2004 o torneio era organizado pela CONMEBOL e UEFA e seu campeão era considerado o Campeão do Mundo, apesar de ter o nome de Copa Intercontinental. Aí em 2000 a FIFA organizou o 1º mundial de clubes, que tinha representantes de todos os continentes. A FIFA não conseguiu realizar o torneio entre 2001 e 2004, mas voltou em 2005, ficando definitivamente e extinguindo a Copa Intercontinental (Mais ou menos como ocorreu na transição da Taça Brasil para o Brasileirão de 1971). Se vc olhar no site da FIFA, a entidade reconheçe esses títulos da Copa Intercontinental como títulos mundiais, mas não mistura as estatísticas dessa Copa com o Mundial atual. Por exemplo veja esse ano, no site da FIFA (http://www.fifa.com/classicfootball/clubs/club=50138/index.html), a Internazionale de Milão constava como a primeira participação em Mundiais da FIFA, mas na relação de títulos, as Copa Intercontinental de 1964 e 1965 aparecem na relação, porém nota-se claramente que as estatísticas de cada campeonato ficam separadas.
Portanto podemos considerar, por exemplo, Palmeiras e Santos, octacampeões brasileiros, mas lembrando que tem x títulos da Taça Brasil, y títulos do Robertão e z títulos do campeonatod brasileiro. Assim como São Paulo, que é tricampeão mundial, tendo 2 títulos da Copa Intercontinental e 1 do mundial da FIFA.

Agora sobre outra polêmica, a da taça das bolinhas, que para mim é uma invenção da mídia para ter audiência e vender jornal. Na verdade ninguém ainda ganhou o direito de receber a taça das bolinhas, já que era para quem a ganhasse por 5 vezes. A taça de bolinhas foi disputada pela primeira vez em 1975 e não foi em todos os anos que ela foi erguida pelo campeão. Tanto que vc nota nas salas de trófeus e nas fotos antigas que os campeões entre 1971 e 1979 não levantaram a taça das bolinhas e não tem nenhuma replica delas guardadas por lá. Quem ganhou a taça de bolinhas foi:

1975 - Internacional
1976 - Internacional
1977 - São Paulo
1978 - Guarani
1979 - Intenacional
1980 - Flamengo
1981 - Grêmio
1982- Flamengo
1983 - Flamengo
1984 - Fluminense
1985 - Coritiba
1986 - São Paulo
1987 - Sport
1988 - Bahia
1989 - Vasco
1991 - São Paulo
1992 - Flamengo

Veja que 1990 não tem. O Corinthians não levantou a taça das bolinhas e não tem nem réplica dela lá no Pq. São Jorge.

Enfim para encerrar , ninguém ganhou a por 5 vezes. E a partir de 1993, outra taça foi disputada e essa sim deveria ir pra São Paulo, pois previa que quem ganhasse a por 3 vezes seguidas ou alternadas ficava com ela em definitivo. O São Paulo ganhou mas não ficou com a Taça.

Mas aí é outra história e esse foi o meu parecer sobre a Unificação dos Títulos. Espero que a história seja respeitada, assim como cada campeonato e suas estatísticas.



1 comentários:

Janjão Júnior disse...

Rapaz
Perfeito seu comentário e a história.

Pena, que tem gente, que teima em desconhece-la
Obrigado e Parabéns