segunda-feira, novembro 18, 2013 | 3 comentários | By: Luis Ventura

Brasil não é a Inglaterra... Tenham bom senso, Bom Senso F.C.

Crédito: 
Rubens Chiri/saopaulofc.net
A empreitada do Bom Senso F.C. em busca de um futebol brasileiro melhor tem sido muito elogiada por todos, seja por suas reivindicações, seja por sua postura de não amolecer perante os mandatários do futebol brasileiro.
Porém, como acontecem sempre, boatos e informações começam a surgir e nelas algumas situações que se atribuem ao grupo. A mais recente delas foi do jornal Folha de SP e reproduzida pela Revista Placar  referente ao novo calendário.

E a partir dessa informação eu cheguei ao seguinte raciocínio: o futebol brasileiro precisa ser alterado, mas pelo visto, o Bom Senso quer “inglesar” ele.

Veja só a sequencia. Todos falam que o Brasil é um país peculiar, pois é o único no futebol que tem campeonatos estaduais e com tradição. Se a gente analisar um pouco mais, vai perceber que o Brasil em muito se assemelha a Itália no futebol. Seja pelo nome que se dá ao seu campeonato (Série A, Série B e assim por diante), seja por outras características, como número de times considerados grandes (Milão e Turim seriam a RJ-SP da Itália, Roma o nosso RS por exemplo, sem contar Napoli, Fiorentina, Parma e outros times com história). O mais recente modelo copiado de lá é o da Copa do Brasil com os times das competições internacionais entrando nas oitavas.

Mas essa informação da proposta do Bom Senso dá a entender que, para eles, o modelo ideal é o da Inglaterra. Sabemos que a Premier League é um grande exemplo de gestão, mas lá, como cá, o calendário também peca por excesso de jogos, tanto que, enquanto a maioria dos campeonatos começa entre a última semana de Agosto e a primeira de Setembro, lá a temporada começa no começo de Agosto, e o pior: não para no natal e no ano novo, como ocorre na Alemanha, Itália, Espanha e etc.

Não digo que o exemplo inglês é ruim, ou o italiano é melhor. Só acho que nesse momento, o Brasil deve é criar uma identidade própria e não copiar os outros. Argentina, México e outros países da América Latina tem a sua identidade: campeonato dividido em dois: Apertura e Clausura, para se encaixarem no modelo europeu. Na Argentina, o melhor de cada turno é campeão. Nos outros países, ainda fazem um playoff ao final de cada sessão para definir seus campeões.

Nos EUA, ainda tem a questão da tradição das conferências e playoffs, já cultural de todos os esportes do país. Agora porque o Brasil não pode criar sua cultura. Porque precisa copiar os outros.

Lembro que nos anos 90 havia muitos campeonatos: Estadual, Libertadores, Copa Conmebol, Mercosul, Copa do Brasil, Brasileirão e Regionais, como o Rio-SP. E apesar de alguns times terem que jogar terça, quinta e domingo, funcionava. E alí, tínhamos nossa cultura.

Com a pressão de todos por um Brasileiro de pontos corridos, para que todos tivessem calendário o ano todo, uma de nossas culturas foi para o espaço: o Brasileirão com mata-mata. Ali, num torneio com 24 times, se fazia 29 jogos no máximo. Hoje, se faz 38.

Os estaduais eram muito longos, duravam seis meses, mas eram mais interessantes que os atuais, com menos times em casa divisão. Os regionais, muito bacanas. Rio-SP só com os grandes dos dois estados, a Sul-Minas forte, o Nordestão... tinha ainda a Copa dos Campeões... era legal, mas a reformulação no calendário feita pela gestão de Ricardo Teixeira em 2002 acabou com tudo isso.

Hoje todos dizem que o Brasileirão anda chato. E concordo. Imagina se estivéssemos com a fórmula antiga, como seria ótimo esse fim de campeonato, com mata-matas? Ah, mas corre o risco do melhor não ser o campeão... No México, na Colômbia, no Chile, sempre foi assim e lá nunca levantaram essa ideia. E eu acho que quem é bom, ganha seja no mata-mata ou nos pontos corridos.

Por fim, dessa ideia do Bom Senso, na situação atual, só apoio os estaduais em formato de Copa do Mundo. Não mudaria a Séries C e D e os outros times, jogariam em seu estado após os estaduais para ter o direito de ir jogar o nacional da Série D. Sobre a Copa do Brasil, se já com 80 times, é um torneio deficitário, em especial nas primeiras fases, imagina com 650?

É preciso ter Bom Senso para pensar nisso todo. É necessário sentar e dialogar: CBF, TV, Jogadores, Federações, Clubes e até o governo, através do Conselho de Desporto.

Em sua última edição, a própria placar deu uma sugestão de calendário interessante, que poderia apenas receber adaptações, como essa fase final de estadual que eles propõe se tornando essa Copa do Mundo estadual e sendo jogada para o começo da temporada e evitar a sobre posição de Copa do Brasil e Sul-Americana, impedindo que os times que, por direito, devam ir para a Sul-Americana, tenham que escolher entre a competição internacional ou a nacional, diferente dos que vão para a Libertadores, que podem jogar as duas.

Eu propus um calendário bem nessa ideia mesmo. No caso dos estaduais ‘Copa do Mundo”, cada federação tem o direito de fazer como quiser, por exemplo, no Nordeste, o período pode ser usado para uma disputa da Copa do Nordeste. O mesmo pode valer para o Norte, sem times na Série A e  B, sei lá... É preciso sentar e ver qual vai valer a pena para cada situação. No centro-oeste, por exemplo, Será que para os times de Mato Grosso, Distrito Federal e Mato Grosso do Sul, sem times na Série A e B, não seria mais interessante um regional do que um estadual, já que eles vão jogar esse torneio no resto do ano? Mas e no caso de Goiás, com times na Série A e B valeria a pena esse regional ou o estadual?

São situações que precisam ser vistas, analisadas, pensadas e não impostas, como a CBF fez no seu modelo atual vigente desde 2002, e que o Bom Senso F.C. quer fazer. 

Acho que se o Brasil quer copiar a Inglaterra, que se copie na questão de punição aos torcedores que brigam nos estádios, ao modelo de administração dos times, na divisão de cotas de TV e não no calendário. Até porque, pelas dimensões dos países, e pelo poderio financeiro dos times, uma viagem entre Rio Branco e Manaus, numa primeira fase regional da Copa do Brasil, não é a mesma coisa que viajar do norte ao sul da ilha britânica numa primeira fase de FA Cup.

Minha proposta de calendário:

Tentei montar um aqui para 2015 com os 30 dias de férias, os 30 de pré-temporada e consegui, levando em conta os seguintes critérios:
- Copa Libertadores e Sul-Americana nas mesmas datas (igual na Europa)
- Copa do Brasil como o mesmo número de fases de 2013, mas em jogo único e em datas diferentes da Libertadores e Sul-Americana para que todos possam participar de ambas, mesmo avançando de fase (caso do São Paulo e dos times que foram bem no Brasileiro passado, mas por avançar na CBR, tiveram que abrir mão da Sul-Americana)
- Respeito as datas FIFA e a Copa América
- O limite de no máximo 7 jogos por mês para cada time
-Estaduais em formato de Copa do Mundo




Nessa minha fórmula, se eu pudesse fazer alguns ajustes, faria o seguinte:

Colocaria as datas FIFA concentradas em Junho e Julho. Nesses meses, só as seleções entrariam em campo, fazendo, dependendo do ano, seus compromissos: 2014 - Copa, 2015 - Continentais (exceto Eurocopa, que faria suas eliminatórias, que já valeriam para a Copa do Mundo), 2016 - Eliminatórias da Copa (na Europa seria a Euro), 2017 - Copa das Confederações (e nos continentes, eliminatórias para os continentais), 2018 - Copa e assim segue o ciclo. Com 45 dias (Entre 01/06 e 15/07) seria possível fazer isso tudo.

Talvez, se os clubes, e depois a TV quisessem, mudaria o Brasileirão: passava para 24 times na primeira divisão e faria voltar o formato que durou até 2002. Assim seriam 29 jogos ao invés 38. As finais seriam em Novembro e os times eliminados antes, infelizmente, entrariam de férias mais cedo. Em compensação, poderiam voltar mais cedo em suas preparações, para no ano seguinte, tentarem fazer um campeonato melhor.

E com as 9 datas a menos do Brasileiro, poderíamos colocar para fazer os jogos de volta da Copa do Brasil ou simplesmente deixar elas vazias, eliminando as rodadas do nacional no meio de semana.